quinta-feira, 13 de setembro de 2007

RPG - Criando e Interpretando Personagens

Primeira Parte
Por Fernando “Wild Joker” Jr.

Personagens de RPG - Os principais personagens de uma história a ser contada, frutos muitas vezes de aspirações pessoais e subconscientes dos jogadores que os criam e passam horas e horas, às vezes até anos e anos jogando com eles. Muitas vezes um personagem de RPG, se torna marcante em uma campanha/aventura... mas mais marcante ainda pode ser o significado que ele tem para o jogador que o controla. Algumas vezes a conhecemos tão a fundo que ele realmente parece existir. Parece que ele vai abrir a porta logo ali da sala e vai entrar, com suas vestes maravilhosas, e nos dirigir a palavra. Seja ele um bárbaro, um mago ou um nobre paladino, ou mesmo um soldado espacial, um super-herói ou até mesmo um grande vilão. Esse é um dos fatores que mais me fascina ao jogar RPG, criar personagens e dar vida a eles, interpretá-los como se existissem, como se estivessem do seu lado, e sem dúvida nenhuma, é um dos pontos mais fortes do jogo.

Como NÃO deve ser feito
Algum tempo atrás, estava conversando com um colega de jogo, e ele estava me dizendo... “Seu personagem é só uma planilha cheia de números, até o momento em que você começa a dar vida a ele”. Isso pode parecer muito óbvio para alguns jogadores, mas ultimamente tenho visto justamente ao contrário. Vejo uma preocupação cada vez maior em construir um personagem poderoso, e cheio de combos e golpes mortais do que se dedicar a interpretar realmente no sentido exato da palavra. Ao meu ver, muitos jogadores ainda estão jogando RPG como se fosse um RPG eletrônico ou coisa parecida, jogando da seguinte forma:

1- Conversam e interpretam sutilmente um pouco, muitas vezes bem basicamente, sendo que no máximo, seguem a risca o que a “tendência” ou o “estereotipo” do personagem diz (o Mestre introduz alguns NPCs para a aventura afim de dar uma certa coerência as pelejas)
2- Compram provisões e/ou gastam o dinheiro com mais armas e equipamentos úteis (a peleja) (chance do Mestre sacanear os jogadores - “Não, você não tem 2X metros de Corda, você tem apenas X”).
3- Partem para a aventura (peleja) onde estão ávidos em encontrar desafios (XPs móveis) para logo acabar com eles e voltarem para a vila mais próxima e receber os louros da glória (dinheiro pra peleja) e para a busca de mais desafios e aventuras (retomar o ciclo - volte a etapa 1)


Claro, que tenho de citar o tipo de “interpretação em combate”. Pode até ficar bonito... (acreditem, ultimamente tenho visto descrições de cenas dignas dos melhores efeitos especiais que um filme de cinema pode ter.) interpretar o efeito de magias ou de como você gira e rodopia a espada, cortando o céu antes de arrebentar o focinho daquele Orc, mas dizer que isso é interpretação, bom... Aí é forçar a barra. Interpretar um personagem acima de tudo é saber como ele agiria em determinada situação, e interpretar isso, de qualquer maneira, sem exitar. Sua personagem evoluída e cheio de itens mágicos saltaria para a morte caso essa fosse uma maneira de salvar toda uma cidade de demônios? Então faça, sem pensar que você vai deixar de jogar com ela, que vai “perder” dezenas de itens mágicos e anos jogados com o personagem. Seu Paladino não deixa transparecer suas emoções devido a um grande trauma que teve na infância? Ótimo, faça isso. Por mais que ele pareça sem sentido para alguns, você sabe o porque daquilo. Está escrito na sua estória, está lá, escrito e documentado. Interprete. Você joga com um Anão que não tem bons modos? Arrote, solte gases...(não necessariamente o jogador, por favor, você ainda quer voltar a jogar com seu grupo) Cuspa no chão. Seja rabugento. Interprete. Obviamente, cada um gosta de jogar de sua maneira, mas se você quer jogar um RPG de verdade, ao meu ver, é assim que tem de ser feito, pois jogos de combate com dezenas de combos e efeitos especiais existem aos montes no PC ou em video-games. Somente numa seção de RPG jogando dessa maneira, você tem a oportunidade de sentar e relaxar a mente, viajar nas estórias e sentir como se realmente você estivesse lá. Sem se preocupar em ganhar pontos para se tornar mais poderoso, e conseqüentemente ganhar mais pontos.


Construindo para interpretar
O processo de criação de personagem não começa ao preencher as planilha de jogo, e sim, antes... quando você o imagina andando e falando, quando você imagina as manias, os defeitos e as crenças dele. Esqueça os números, e benefícios, esqueça os combos e poderes. Nem se quer pense nas magias magníficas e poderosas ou na espada mortal e afiada que ele vai usar. Comece pela estória do personagem lá atrás. Pense no nascimento dele, aonde foi? Ele teve/tem família? Aonde estão? Mortos? Ou ainda vivem? Se vivem, como é o relacionamento com eles? Coloque-os no jogo como um dependente mais novo do seu personagem, pode ser um irmão mais novo, ou mesmo uma irmã que insiste em seguir os seus passos. Isso renderia dezenas de seções de interpretação aonde seu personagem iria tentar mantê-la segura ou ate mesmo iria treiná-la para resistir aos perigos que enfrentará ao seu lado. Sempre construa pensando em como você pode tirar proveito da estória que ele tem, ou mesmo crie a estória já propositalmente com vários “ganchos” para o mestre usar em aventuras futuras. Alias... Exija que seu Mestre faça isso. É um direito seu de se divertir com um personagem que seja muito mais do que uma ficha de papel e números. Não deixe que nesses casos, a maior emoção passe a ser a hora de ver o resultado dos dados.

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